“Depois de jurar cinicamente aos senadores na quarta que defende o distanciamento social e o uso de máscaras, Pazuello desfilou ao lado de Bolsonaro no Rio três dias depois, aglomerando e sem máscara, tratando os membros da CPI como idiotas”, escreve o jornalista Mauro Lopes.
O Exército brasileiro tem apreço pelos genocidas. Fez do até agora maior deles, Caxias, seu patrono. Caxias matou brasileiros, 10 mil na Balaiada, mais de mil no massacre de Porongo, e mais de 300 mil homens, mulheres e crianças na Chacina do Paraguai, chamada de “Guerra” pela historiografia oficial militar -levando 100 mil brasileiros pobres, em sua maioria negros, igualmente à morte. Quando imaginava-se que os feitos do general Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias, seriam insuperáveis, eis que surge a figura do general Eduardo Pazuello a ombreá-lo como co-autor do genocídio contemporâneo, ao lado de Bolsonaro.
Pazuello assumiu o Ministério da Saúde em 15 de maio de 2020, quando o país tinha 14.817 mortos notificados pela Covid. Deixou a pasta 10 meses depois e um rastro de 280 mil mortes -os números são bem maiores, mas esta é a numerologia macabra oficial. É patente que na conta de Pazuello e Bolsonaro devem ser incluídos todos os mais de 170 mil mortos que vieram depois da gestão pazuellina -num total, até este domingo, de mais de 450 mil mortes (estima-se que devido à subnotificação, pode ter morrido mais de 600 mil pessoas em razão da pandemia).
Sim, pois como o demonstrou a professora Deisy Ventura, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora de uma série de estudos ao lado da Conectas Direitos Humanos sobre a existência de uma estratégia institucional de propagação do coronavírus adotada pelo governo do presidente Bolsonaro e que teve em Eduardo Pazuello seu principal sócio. O estudo enumerou 3.049 normas federais produzidas em 2020 que identificam sem margem a dúvidas “a estratégia intencional do governo Bolsonaro” (nas palavras de Ventura) e propagação do vírus. Assista aqui à entrevista da jurista à TV 247 em 25 de janeiro de 2021 onde ela apresenta o estudo.
Responsável maior pela chacina ao lado de Bolsonaro, Pazuello foi à CPI na última quarta-feira (19), voltando no dia seguinte. Seu desempenho oscilou entre a truculência, uma torrente de mentiras e o cinismo.
Qualquer testemunha que tivesse comportamento similar ao de Pazuello no confronto com os senadores teria saído preso da sessão -de fato, não há registro de algo semelhante na história das comissões parlamentares de inquérito.
Pazuello não saiu preso porque é general e, apesar de trajar terno, todos o viram sentado no banquinho da CPI com a farda de um general do Exército brasileiro.
Só por isso saiu incólume aos seguidos atos de truculência e desrespeito aos senadores: disse que as perguntas do relator eram “simplórias”; em determinado momento, com ar de irritação, afirmou “Eu já respondi isso n vezes” e, logo depois, em outro assunto, desafiou: “Isso já foi respondido centenas de vezes”. Numa pergunta sobre as vacinas da Pfizer, ousou: “Não, até porque não houve decisão de não responder a Pfizer, digo isso pela quinta vez”. Se fosse civil, teria saído para a prisão.
O general e o capitão desfilando no Rio (Foto: Reprodução)
Mas a truculência não foi a pior agressão do general. Ele mentiu vezes sem conta, como os serviços de checagem das diferentes mídias o comprovaram. O cinismo, entretanto, foi o cume de seu comportamento.
O general não foi, portanto, apenas truculento ou mentiroso ou cínico.
Neste domingo, fez mais: tratou os membros da CPI como idiotas.
E agora?
O presidente da CPI, senador Omar Aziz, garantira no sábado que Pazuello será convocado mais uma vez. Os senadores passarão recibo de idiotas e verão a comissão desmoralizada ou irão reagir?
Ser ou não ser idiotas institucionais.
Eis a questão.

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